terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Gosto do nevoeiro.
Invejo quem não escreve e se acompanha pela mente.
Nunca se desmente.
Gosto daquela casa, tem janelas.
Faço-me aquecer deambulando em suas telas.
Invejo a chuva,
Ela cai sem lhe doer.
O quanto sou invisível é ela quem me faz ver.
Faço-me demorar
Para evitar as suas gotas.
Contradizem o nevoeiro que me esconde.
Vou sóbria na poesia que é, enfim, quem me dá nome.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Dispo-me de sentidos
Para te ouvir falar.
Deixo-me seguir, caída dos teus braços,
Sabendo que fui eu a me atirar...

Dispo-me das rosas, do vento, de tudo,
Fui flor sem me deixar sentir.
Quis ser mais para ser tudo,
Ser nada pois nada é mudo,
Chegar e deixar-me fugir.

Malmequer quem me bem queira,
Terá, decerto, infortúnio.
Sou casa numa lareira,
Remos a arder,
Muito fumo.

Fui ver que a noite caía,
Deixei de me ver ali.
Diz-se que a noite está fria
E eu à espera de ti.

Dispo-me de sentidos
Para te ouvir tocar.
Sou nada.
Nada tenho mais,
Que os teus braços caídos,
À espera de me abraçar.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Perco-me em contradições
E levo-me onde o tempo não se conta.
As estrelas, hipotéticas noções
E o vento é o que, lento, nos afronta.

Sem medo a vida não é mais que o nada
E palavras corridas são vazias
Se me levasse o tempo a madrugada
Seria choro em lágrimas razias.

Inventar palavras para páginas limpas
O álcool que me imponho sem calor.
Passa-lhe o efeito, e (re)volta-me a dor
E fujo ao que desisto de mim...

Corro sem forças por (não) ser assim...

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Sei pouco da realidade.
Tudo o que o mundo é é o que faço dele.
Nada se conjuga
E os pensamentos não são senão distorções da realidade que fazemos do mundo.
Como te sentes?
Farto-me de pensar.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Qual o destino?
Para onde é que me levas?
O vento sopra sem sentido,
És tu vão nas tuas trevas?
Destino?
Qual é o destino?
Soa a música como vida
O meu sonho não tem tino,
Não tens tino?
Bate que bate a tortura
Que não sei que dela digo.
És tu vão nas tuas trevas?
És tu, nelas, meu abrigo?
Qual é o destino?
Não me cales...
Não te cales...
E as vozes que nos soam,
Semelhantes ao passado,
Acham-se aves que em nós voam,
Nos levam para outro lado.
A música não me pega,
Não tenho como a dançar,
E diz-me qual é o destino
Que em mim vais desenhar...
Dança comigo,
Se também não sabes...
Qual é o destino.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Estou a fugir à poesia,
Porque te quero ouvir tocar
Nesse piano.
Se é da arte que sou cúmplice,
E me dizes que sou eu no desengano.

Vou fugir sem ter retorno,
Porque o vento em que me torno,
Vai e não volta.
Mexe as ondas que se envolvem,
E me guiam pelo farol que o mar revolta.

domingo, 28 de novembro de 2010

Hoje vou fugir
Como se a rima não me amparasse.
Vou andar a pé,
Ver-me passar,
Olhar como se um rio passeasse.
Vou passar a ponte e vou-me ouvir,
Fechando os olhos sinto a estrada oculta.
A doçura do vento faz-me rir,
E aquece-me a que do fumo resulta.
Hoje vou fugir
Sem ter caminho em paralelo...
Vou escorregar nas estrelas
Que ainda não se vêem,
E ver-me cair...
Não quero deixar rasto
Se me vêem.
Não quero falar de ti.
Não quero resguardar-me nas palavras
Que em tempos, só por si, valiam tudo.
Não vou falar de ti, não vou falar de nada.
E vou escrever como se o tempo fosse mudo.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O sonho fica longe e não me volta,
Agarra no cascalho que ladrilha,
Um dia usei o sonho por estar morta,
Achando que é no sonho o que fervilha.

Quis ser fogo no vento que arrefece
Levar calor ardente ao que definha,
Achar que a cor é negra numa linha,
Que segue e em todas as cores decresce.

Fui, vaga, ao horizonte do horizonte,
Para encontrar o fim do que se acaba,
Fui longe sem sair deste meu monte,
Que por loucura insípida desaba...

Quem sou para amarrar os meus sentidos?
Ou pra querer sentir intensamente?
Sou nada no que se diz e se mente...
Sou vã e madrugada delinquente,
Nas coisas das palavras sou quem mente,
Por dizer-me ser omnipotente,
Por querer mais que o escrito que foi lido.

sábado, 23 de outubro de 2010

És paz em chama acesa que consome.
És quente em mim, na pele arrepiada...
És frio numa noite de Outono,
Inverno em solarenga madrugada.

És mítico poema num olhar,
Que por não ser palavras, julga tudo.
És eterna conversa que se cala,
Sem desejo que, nisso, sejas mudo.

Não queria escrever estas palavras,
Pois se és, és mais que mera descrição.
Feliz posso eu ser, que me prometes,
Escrever-me nos dedos da minha mão...

Sentiste-me o destino, se ele existe.
E adubaste a flor que em mim plantaste...
Mais tarde nada vou ser, que o meu destino,
Pensando que em mim o desenhaste...

domingo, 17 de outubro de 2010

Pede-me um segundo.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Vou fugir ao que é terreno,
Mas vou dançar.
Pôr o vento numa caixa,
Para deixar de voar.

Vou cair lá no horizonte,
Pois foi lá que me perdi.
Enterrar o uivo no monte,
Achando que o lati.

Se for chuva, vou escorrendo,
Até que me vou bebendo,
As árvores saciar,
Até me saber cantar.

Na água de um rio me ponho,
Na lama das margens me afundo
E numa poça me sonho,
Achando nas nuvens um mundo.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Saíste para a rua,
E pisaste o ladrilho.
Achaste que por seres teu
Que a rua era, também, tua,
E seguiste no seu trilho.

Fizeste questão de pisar
Cada pedrinha no chão.
Chutá-la com tanta força
Como a do teu coração.

Queria escrever os teus passos,
Ao som do cão que ladrou.
Fugir sem contar com a lua,
Esquecer se são eles devassos,
Correr como o céu andou.

Ia fazer companhia,
Ao relento que sorria...
Surgir como se fosse sonho
Ou uma mera fantasia.
Acordar, e ficar a ouvir...
Os teus passos no ladrilho.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Só me apetece dormir...
E tenho dormido tanto que nem me lembro de sonhar coisas que me inspirem.

sábado, 18 de setembro de 2010

Nunca te pedi um poema
Poemas doem demais....

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Do lado de fora, bateram à minha janela...
E eu abri. Deixei entrar.
Chamou-me o vento por ela,
Sozinha deixou-me a voar.
Cá fora só ouço um gato,
Que mia, com desespero.
E as estrelas, que brilhavam
Estão hoje tapadas com nuvens,
Como se tivessem medo.

Do lado de dentro, bateram à minha porta...
Não quis que pudessem sair,
Arrombaram-me as certezas,
Quebraram as 4 paredes,
Deixaram entrar tristezas...
Roubaram loucuras.
Lá dentro, ouço o relento
Que desejava lá fora.
Agora já não há nada,
Vou dormir, pois está na hora.
Como foi?
Como foi que o céu azul foi encarnado,
E vermelho se despiu fã do seu fado,
Que cantado foi martírio no que sou...
Como foi que se passou?

Como é?
Que agora o tempo tem sentido,
E sentido é mais ainda que medido,
Seus segundos são passados e corrói...
Como é que sou quem foi?

E será?
Será que o vento cobre o meu tormento,
Se o levar leve, recolhe o alento,
Por baixo do Outono que virá?
Será que um outro beijo me rejeita,
Sabendo que sou fel à tua ceita,
Aquele que de nome não ficará?
Mostrar-me-ás tu, de longe, o caminho,
Desenharás um trevo no meu pé,
Serás tu a sonhar-me no relento,
Porque o que seria já nunca é?

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Oferece-me uma rosa que roubares do teu jardim.
Deixa-me dar-lhe o perfume que um dia senti em ti.
Se do medo formos escravos, decerto queres que a devolva,
Deixa-me seca-la em sonhos, p'ra que eterna se dissolva...
As palavras fogem-me, como as memórias.
Não sei dizer o que não tenho,
Não sei viver o que não sonho.
Fogem-me, não as agarro,
Não há tempo p'ra render-me ao seu engenho.
São palavras que se mentem,
Carinhos que se inventam,
Miragens que me alentam,
No meu perfeito egoísmo.
Vou dispensar-me do fardo
Daqueles que sofrem de mim.
Quero olhar p'ró horizonte
E dizer que é mesmo o fim.
Que não espero mais pelas palavras,
Que não jogo mais de versos,
Que o que digo são amarras
E o que esqueço é o inverso.
Não mais.
Não me vou deixar sofrer pela tortura,
Que escrever é a mentira que mais cura.
Vou desmentir-me poeta, pois me invento.
E se as palavras me fogem é porque lhes traz alento.
E não quero rimar, pois me adivinho.
E ao sonho peço-lhe apenas:
Deixa-me ler-te sozinho.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O teu nome é o que começa no Mar
E acaba em Terra,
E este é o último poema que lhe escrevo.
É certo que não sabes quem diz nem, bem, quem erra,
E descobri-lo será o teu maior medo.
Serás tu assim, barco de remos?
Ou pensas que no vento tens guarida?
Perdoo-me por querer navegar-te
Numa viagem de volta sem ida...
Mas sou, pois, chama acesa que se abate,
Por razões que no tempo não se tentam.
E tentando sem fim que o céu se mate,
Resta-me a Lua e estrelas que se inventam.
Recordo neste céu que, vão, me cobre,
As nuvens que, de chuva, não tocámos.
Quem sabe, esperarei morrer de frio,
De um dia, que de quente, confortámos.
Já foi mais longe o tempo que o que foste,
Mas gasto-o, sem querer. Reles esperança!
Fui noite e ao dia queres que me encoste,
Palavras caladas numa aliança!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Hoje acordei cheia de esperança de morrer,
Perder-me, onde fiquei, onde me foste tu saber...
Mas nunca lá me soubeste..
E a esperança, em revolta se envolveu.
Pediu-me resistência nas palavras que sofreu,
Que me encontro escorregando no meu leste, no teu norte....

Hoje acordei cheia de esperança de morrer,
Mais que a claustrofobia de saber-me não te ter...
Porque no sonho te falei, te pedi braços persistentes...
Quis saber-me confortável no conforto que me mentes....
Ai...........

Tinhas que te deixar levar pelas palavras, pela ciência não exacta.
Ciência são experiências, reais, sem tempo, sem data...
Roubaste-me essas palavras que eu nunca te direi,
E fizeste-mas falar por meios que nunca usarei....
Não estou... Não estou aqui, nem estarei.
Repudio-me por ser-te nas palavras que aqui escrevo.
O que temo não me deixa e o que deixo em ti o temo.
Não sei o que te darei, muito menos o que devo.
Foste vão por seres palavras e tudo por me teres medo...
Tinhas medo do meu amor, que de amor já está queimado,
Nas cinzas das quais nasceu de novo,
Foi rejeitado.

Não sabes o que é amor, não sabes o que é amar. Vais ser vão nessas palavras, imaturo nessas mágoas, calor no frio que sentes, pois vazio é o que mentes, por muito mais que o não tentes....

Não darei mais, escrevo eu. Mas fujo às palavras p'ró céu, mas fujo ao calor p'ró relento... Mas eu tento... Eu tento!...........Eu tento.......

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Nunca mais eu vi as estrelas,
Perdeste-te na noite só por vê-las
Esqueceste-te das cores que tens ao tê-las,
E roubaste-mas, do meu céu.
Fingiste-te seres tu desentendido,
Por achares tu mal que eu as tinha tido,
Mas Foi porque tas dei que as tiveste,
As estrelas daquele céu que me reveste.
Nunca mais as vi.
E, com esperança, estou a pé pré-alvorada.
Mas não dá, e sem que queiras foi para ti
Que o fogo reservou noite matada.
Nunca mais, e sei que não te importas com o desgosto.
As palavras são carinhos no teu rosto,
E eu? Eu nada sou. Nem nada do que te dou.
O que te dou é tempestade,
Inundações de vaidade,
Carinhos sem ter amor...
Talvez não, mas o que o vales,
Não chega para matares
O desgosto das palavras, que me dizes por me amares.
Por não teres mares....
Por não teres praias...
E a revolta em mim é tanta
Que desejo que não caias...
E os pontos não se acabam,
Porque um dia vi palavras e palavras não me viram,
Deixaram-me desgastada nas amarras do que queriam...
Deixei de te querer palavras.
Um dia pedi-te estrelas....
Mas as estrelas que me amavas
Não eram assim tão belas....
Aquelas? Nunca mais as vi.....

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Foram retratos.
E numa casa velha me abrigaste.
Ouvia-se ranger por entre as telhas
O brilho das estrelas que roubaste,
Para me oferecer.

A lua mais pesada ficou lenta.
Caiu, como minguante que seria.
E nas paredes, luas desenhavas,
Num rio com sabor a maresia.

Foram retratos.
E foram quadros de um por do sol perdido.
E a areia que guardei entre os meus dedos,
De ter pisado no mar recolhido,
Foi só tua.

Quiseste que não fosse o que te tenta.
Mas fui sem o saber, porque me encolhe.
Fui em vão, porque o que resta não me alenta.
E o que fica és tu quem pensas que recolhe.

Nada. Nem um retrato.
Não expus circunferência preenchida.
Nada foi, porque o que dói é mais que um acto,
E não sabes tu ler a palavra mais lida.
Ou será só o que tu sabes?

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Esqueci-me de como se escrevem palavras,
Para desenhar o teu nome.
E na imensidão de frases inacabadas,
Me pinto o teu perfume.
Foi num abraço.
As estrelas apagaram-se com o fogo,
A lua, alaranjada já se apaga,
E eu, desamparada, por ti mudo,
Já não sei escrever reles palavra.
Porquê, não me pergunto.
Custa-me explicar-me, porque o sei.
Mas neste suspirar de um beijo, estudo,
O que em palavras, sós, um dia amei.
Foste tu? Não.
O tempo não permite hipocrisias.
Se um dia não fores tu, não é ninguém.
Serão as palavras único alguém,
Rasgarei o desenho que me tenta.
Perderei o que em meu corpo se inventa.
Deixarei de me pintar o teu perfume,
Porque um dia foste fogo, e eu fui lume.

sábado, 19 de junho de 2010

Não vou falar de ti.
Não vou falar das estrelas, nem do sol
Não vou falar da noite, porque a noite é ruim.
Não vou falar de ti, nem vou falar de mim.

Não vou falar.
Vou olhar e ver-te.
Não vou tocar,
Mas vou ler-te.
E, cega, desesperar pela certeza.
De que, louca, neste mundo, não terei senão tristeza.

Não vou falar de ti,
Decerto, não o mereces.
Sei que pensas que é para ti
Que desvio as minhas preces,
Mas não.
Não é para ti,
Que tu, como a noite, és ruim.
Não é para ti, nem é por mim.

Não vou falar de ti,
Vou beber o meu café,
Talvez na esperança que venhas,
Calar-te, aqui ao pé.
Foi hoje que calei a noite
Logo quando começou.
Devagar, silenciei-a, por cedo nascer, do dia,
Com a luz que a abafou.
Então calei-a.
Passeei-me, fugidia.

Corri, esperando que as nuvens tapassem a minha face à noite.
Noite com nuvens não é noite, não tem estrelas, não tem lua.
Eu pensei ter calado a noite, mas a lua viu-se nua.
E as estrelas me abafaram, de vingança, num açoite.

E por fim, vi-me calada.
Com vontade de chorar.
Queria sentir-me amada,
Mas a noite deixou de me amar.
E por fim, digo boa noite
À noite que me calou.
E o carinho que lhe entrego,
Fingiu que não o tomou.
Mas receio o esperar pelo beijo
Decerto não o vou receber.
Não sei bem se o desejo,
A noite só mostra traquejo
Em fingir que quer proteger.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Deixar-me de palavras, de gestos, deixar-me de tudo.
Hoje vou.
Porque o mundo deixou de me ser mudo
E proezas que ele diz, a alguém, são coisas.
Não.
Nem coisas são.
São nada.
E o mundo não me diz nada, mas deixou de ser mudo...

Deixar-me de palavras, de gestos, de tudo,
E vou hoje, calar o mundo.
Porque as estrelas já não brilham como antes,
Nem a noite nos sorri, é mais pedante.
E o que tenho do mundo? Nada
Afinal, o mundo é mudo.

Deixar-me de palavras, de gestos, de tudo.
Porque as palavras deixaram de falar e os gestos de tocar.
Porque o mundo deixou de pensar e as estrelas de brilhar.

Vou deixar-me de palavras, de gestos, de tudo.
E vou deixar o mundo, assim, mudo.
Num copo de vinho, ouvir vozes,
Num copo de água, afogar tristezas,
Num copo vazio, encopar-me.
Ninguém me beberá, nem calará.
O mundo, mudo, será surdo.
Não o ouço, não me ouve.

Infecta-me o pensamento. O mundo. E mais é mudo.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Tudo isso é utopia.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Febre

Do vento apanhei o frio,
Da chuva apanhei a água.
Nos pés correu o vazio do gelo da minha mágoa.
E fiquei.

Lateja na minha cabeça
O som daquelas palavras
Mentiras que não queres que esqueça,
Sementes na terra que lavras...
Ai!

Porquê?
Porque o tempo nos marca com febre,
Nos faz delirar sem certezas
Sem querermos que o tempo nos marque,
Por chuva levamos levezas,
Pesadas que nos matam, porque
Na mentira não há riquezas...

E fico, fechada, de cama.
Quarentena no meu coração.
Porque um dia fiquei no frio
À espera de ti, em vão...

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Quero deixar de ser.
Quero deixar de ser, como a chuva, quando pára.
Como árvore, cortada.
Quero deixar de ser, como o perfume de uma flor molhada.
Quero deixar de ser.
Como o tempo, num instante.
Permanecer no corpo,
De alguém que é ambulante,
E não ser estanque.
Quero deixar de ser,
Não me importa o artifício.
Deixar de ser,
Como quando não há vício.
Quero deixar de ser,
Ser em vão, como já fui.
Se isso me deixar ser,
Sendo algo que evolui.
Quero deixar de querer,
Pois no querer está a esperança,
E esperando, algo me obriga
A manter a desesperança.
Quero deixar de ser
Como deixar de querer, quero.
E no fim fugir do mal,
Querendo o bem no que é austero.
Ai!
Quero deixar-me só,
Como muitos o fizeram.
Só, demais, sem pensamento,
Como muitos o quiseram.
Quero deixar de ser
E sendo, no meu juízo.
Quero deixar de querer
Querendo o que não me deste,
Porque deixei de querer,
No fundo, como quiseste.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Vou deixar de acreditar
Na chuva que cai,
No vento que sopra.
Vou deixar de acreditar no impossível,
Fugir ao que desejo, inatingível,
Pois força é pouca e dura, parte e vai...

Vou deixar de lutar,
Porque o que finda,
Finda sem saber onde se cai.
Vou deixar de acreditar que a chuva rega as plantas,
Que o sonho comanda a vida,
Pois no fim de tudo o que vem, sempre vai.

Vou deixar de acreditar.

domingo, 6 de junho de 2010

Sonho em silêncio

Vou calar-me.
E comigo vou calar a noite, as estrelas,
As nuvens que as tapam.
Vou fechar os meus olhos nos teus olhos
E nunca mais acordar...
Vou saber-me desejada no beijo que te vou dar.

Vou calar-me.
E ao sono que me afoga por ser noite,
Por ser lua.
Não quero ser tua, não quero ser minha.
Apenas me vagueio pela rua.

Vou calar-me.
E tirar às palavras o sentido que não têm.
Escrever somente em gestos,
Falar somente em actos...
Ouvir-te...De ouvidos tapados.
Ver-te, vendada.
Tocar-te...
Talvez onde exista o nada.

Mas vou calar-me,
Perdida no silêncio do sonho de um sussurrar.
E com ele vou acordar.
Despertar.
Recordar.
Sofrer.
E calar-me.
Podia desarmar o mundo só para ti,
Se fosses Rei.
Desacabar o brilho das estrelas,
Se fosses céu.
Como poetisa antiga,
Escrever o impossível,
Isto, se fosses meu,
Inatingível.

Mas vou deixar-me de ser sonhadora
Pois sabes que no sonho não há cura.
Apenas uma dor desoladora
De esperar o que não vem, leva à loucura.

E vagueio-me por coisas que disseste
E que por sinal, ouvi, sem ser calada.
Mas imploro-te o silêncio no que leste,
Ao silêncio rogarei a madrugada.

Mais não digo, são demais estas palavras
Para quem não ouvirá, decerto, a lua.
Gostava que fosses Rei, que fosses Céu,
Poesia num mundo que não é meu.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Hoje, quando apagar a noite, verei a lua.
Prometi-lhe que a desenharia nua.
Mas não será hoje...
Pensei que a um sonho me entregaria.
Sem querer, vi a lua fugir, dia após dia,
E com ela o que há de bom e de mim foge.
Diz-me que serás rei, mais que a utopia.
Promete-me, na cor, que serás puro....
Pois o branco que me afunda agora é negro,
E o solo, um dia mole, agora é duro.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Vou lá fora.
Vou lá fora molhar os pés na chuva.
E se não estiver a chover, esperarei,
Pois na esperança me afoguei um dia.
Aquela esperança que julguei ser o que queria,
Mas sei que não me afectarei.

Vou lá fora.
No som da chuva encontrarei o meu silêncio.
O que me pedes, eu não sei, mas sei que em mim não há pretensio.
Se tu me julgas são certezas infundadas
O que tu usas p'ra fundamentar mentiras que em ti tragas.

Vou lá fora.
Vou esperar que anoiteça.
Não liguei a televisão o dia todo,
Nem por isso é algo que me enriqueça.
Vou lá fora respirar o dia quente que sonhei

E esperar que chova chuva para sonhar que me afoguei.
De resto, não me aconselhem.
Já me afoguei em águas mais profundas,
Sem sequer molhar os pés.
E agora, só me resta respirar onde me afundas e sonhar que estou a leste do meu sul, que perco o meu norte ao olhar ao meu poente.
Vou lá fora.
Vou lá fora molhar os pés na chuva.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Olha por mim,
Quando ouves as ondas do mar dentro de um búzio...
Olha por mim,
Quando a sua espuma bate nos teus pés.
Se não olhares por mim, então não sei quem És.

Olha por mim,
Se no fundo as estrelas têm um encanto...
Olha por mim,
Se me cobres, lentamente com o teu manto, ó Rei.
Se não olhares por mim, então não sei se o sei.

Olha por mim,
Por mais longe que eu vá, sabes que tento.
Olha por mim,
Se isso em Ti te cria algum alento.
Se não olhares por mim, então não És o vento.

Olha por mim,
Se algum dia foste lua nova,
Olha por mim,
Se algum dia me deste alguma prova, de que olhas por mim.
Olha por mim,
E rezarei sem termos ou sei rima,
Pois saberei quem És,
Pois saberei que sei,
Pois serás Tu o vento,
Que me leva sem tormento.

sábado, 3 de abril de 2010

Lá fora o tempo ruge
Com a voz do desconhecido feita em vento.
Desinvade-me de medos e tristezas!
Leva-me p'ra longe num momento.

E agora, fico-me na campa das palavras.
Que porque não deixei, não foram mágoas,
Que porque não deixei, nem bom prazer.

Do medo fica apenas a loucura
De não me ter vencido desta cura
De simples ter fugido do meu ser.

Não há mais do que cores para ser pintadas
Não há mais do que palavras mal ditadas
Não há mais do que sonhos sem se viver.

E agora, fico-me sem podres na pureza,
Sem escuro do qual algo me proteja,
Sem frio para que surja o coração...
Não tenho a minha mão.
Perdi toda a razão.
E nada tenho. Nada noutra mão.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Não percebo

Não percebo:
Das palavras tira o vento o seu sentido;
Não se ouvem, nem suspiro, nem gemido;
Não se escuta, a não ser falsos vapores pela pele quente.

Se me dói?
Dói-me na alma o que no corpo tem guarida
E é da poesia o medo que me afasta,
E da mente o que no coração da pele me torna casta,
Talvez por me ter entregue assim me rói.

Não foi porque me dei cedo, sem certezas de me ter,
Mas certezas de me teres é que me levaram sem medo,
É que me desarrastaram por mentiras no prazer.

Foi por ter fechado os olhos ao que foste, que me arrasto
E agora, por os ter abertos, vejo, sem me ter.
Mas vou-me ganhando aos poucos da mentira do prazer.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

domingo, 14 de fevereiro de 2010

E assim morre o desassossego,
No local onde a esperança já foi medo.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Ficou no vento que voou,
Não veio mais.
Essa tristeza só ficou por confiança
De que em tempos irá ser sempre o meu cais...
Mas não, e o tempo a levou.
Nem a saudade já tolera a desesperança.
Nem a esperança fica,
Derreteu metais.
E o que espero vem da morte,
Com certeza.
E da morte pouco mais há que a tristeza,
Mas riqueza a mais que a morte
Não se estica.
Ficou do vento que passou,
Essa tristeza que me engana por ser mágoa,
Mas que é mágoa nunca mais justificada,
Porque a morte foi o vento que a levou.
Ficas tu, do vento,
Que por matéria que és, não voas mais.
E a saudade dir-me-á que ficarás.
Nem o vento tu contigo levarás.
Voas aqui, nas minhas nuvens,
Mas sei que estarás nas estrelas com encanto:
Esse brilho que não é o do entretanto,
Esse brilho que, de luz, dá muito mais.
Ficas, e não vais.
Nem com o vento que voou desistirás,
Pois és força, e ao vento resistirás,
Pois és vento que não voa, ficarás.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Cansei-me de ver o mar sem peixes,
De nadar no seu sal e ser poeta.
Cansei-me de me perder em desleixes
Das palavras de quem diz ser vil profeta.

Estou lesa do que fui por não me ser,
E no fundo só sei qu'isso me mata,
Mas digo não me permitir mais ser
Serva daquele que me faz dizer lata.

E no fim das palavras só há espuma
Do mar em que nadei sem ser sereia...
A sereia que fui agora ruma
No longe do que em terrenos semeia.

E peço mais uma vez, não me peças
Para escrever palavras de humildade...
Ando à procura de arma que me meça,
Sem querer ou exigir serenidade...

Um dia quiseste-me ser poeta
para escrever em ti palavras soltas...
De tudo o que foi limpo, estou liberta,
Por estar presa nas ruas onde escoltas.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

E encontro-me assim. E a vontade de escrever é muita, combatendo a falta das palavras. É como a vontade de amar... A vontade de amar e ser amada é tanta, mas faltam os sorrisos, faltam as loucuras, falta o amor... E a vida é assim como um poema. E os meus versos estão mais soltos, já sem rima. E no tempo em que procuro o que me lima só me limo mais o peito, tamanha dor....

E estou assim, sem saber onde escrever mais as palavras, sem ter palavras para escrever. Esperando, no imaginário do consciente, que é margem do inconsciente, aquilo que sei que não vem. E talvez o saiba para o meu bem.

Não sei. E esforçando para o saber, sei que me mato. Aos poucos e poucos vão as linhas do comboio das palavras, e o comboio anda para trás. Sinto-me morta, porque não sei o que ele traz. E, no suspirar do meu caminho, ele sopra, mas com o seu vapor é tudo o que ele desfaz.... Não sei.

Talvez entenda em ti o que não vejo, mas não sei quem és tu nem o protesto, e o que me engana em mim é essa dor, que por não ter amor, não a desejo. E atormenta-me o calor da tua voz, quando falas frio, quando não te ouço e te procuro no vazio... Não sei quem és. Não te vou procurar, porque não sei de onde vens. Não quero fugir de ti, porque não sei se existes e não sou louca.

Esta vontade de amar só me é fatal, e a fatalidade em si não me é banal. Mas por seres em mim punhal é o que me encontra. No fim, ainda te procuro, sem saber quem és, sem te entender, sem te perceber, sem te existir...

sábado, 9 de janeiro de 2010

gostava de ser "poetizada"
de sentir que para alguém sou como um poema
gostava de me sentir pensada sem palavras
e amada sem versos
gostava de ser poema
e viver sem me rimar
ser declamada sem ar e sem descanso nas amarras
nem que fosse só um minuto
ser escrita sem saber
nos sentimentos de alguém,
ser tudo o que ele pode ter...
e não morrer
por ser poema
e ser poema sem ter tema
e ser amada sem ter ar,
vivida sem respirar
e no fim ficam palavras,
mas palavras sem escrever serão tudo o que as quiser....
gostava de ser poema,
e ser escrita sem ter lema ou sem razão
desenhada sem lápis por uma mão
e lida como quem ama...
e lida com coração



(improviso)
Que neve.
Que neve, que no gelo é a fartura.
Que o tudo do que há no medo, o gelo fura.
E penetra.
Que neve.
Ou que o gelo da ingraça me entretante.
Se é tudo o que me querem,
Então, neve.
Não encontro bateria no que dão,
Não me deixam encontrar-me para a ter.
E de toda a alegria que há no chão
Não me importo de rastejar p'ra viver.
Mas então, que neve.
E molhada das loucuras eu me seco.
Porque o tempo já não há, nele não me perco.
Se gelada depois fico,
Quero gelo que derreta,
Não aquele que me congela num castigo,
Não aquele que me persegue sem razão,
Mas aquele que alegria me prometa.
Que neve!