segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Quem será o dono dos nossos demónios?
Serão eles amestrados por corpos sem valores,
Desesperos, ardores,
Quem será?
Começamos intérpretes do momento,
Saliva, suores, unguento,
Mas quem nos os será?
Vêm os tempos sangrentos,
Para nos deixar perdidos,
E vivemos atentos,...
Apaziguando os desconfortos
Dos nossos demónios,
Que ninguém tem.


Ofereço os meus demónios
A quem os souber guardar.
Que lhes dê um bom nome,
Que lhes faça um carinho,
Que lhes cure a dor.
Soltando-os do seu criador,
Que lhes construa um castelo,
Bem longe, bem longe de mim,
Que ponha aos meus demónios
Um fim.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Desenha-me outra vez
Mas não me toques,
Não me toques.
Que o sentir já se fez ledo,
Dono demais dos meus quês.

Sou mais do que o que escrevo,
E nem o que escrevo lês.
Desenha-me outra vez,
Mas não me toques.

Ai, que inveja do passado!
Disse-me deusa do fado.
Fado meu, este cantado
Em silêncio mal amado
De querer sem querer
O meu coração afogado
De volta.
Mas já não volta.

Ai, que inveja do cansaço
De já não ser.
Fado meu, retorna do abraço
Onde me quero adormecer,
Do silêncio mal amado
Fazer amor aconchegado
De volta.
Se é que não volta.

Pedra encharcada ao meu caminho,
Leva-me ao desassossego
Que o medo do amor cego,
É o meu melhor carinho.
Deixa-me ficar no fado
Do silêncio mal amado,
Que a lágrima que carrego
Não é digna
Deste grito mal cantado.

Faz-me mulher deste fardo,
Alimenta-me a fome de castigo,
Que o fado é meu amigo.
(Faz-me esquecer o passado.)

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Saturou-se o pouco tempo
Com águas lavadas, saudade.
Falta só mais um segundo
Para se afundar o mundo,
Paraíso da verdade.
E como queria mentir-mo!

Não se contam prosas sem versos
Onde há carinhos adversos,
E o texto onde desarmo o impassível
Lavado em terreno visível,
Submerso num mar de rosas,
Como queria mentir-me!

São uns a seguir aos outros,
Palavras, segredos loucos
Sentidos e coagidos,
Saturam-se os tempos poucos
Vivendo-me os vãos suspiros,
Como queria menti-los!

E escreve-se poesia
Coagulada, não lida,
E que inventada se cria,
Como queria menti-la,
Como queria senti-la,
Ai, poesia querida!