sábado, 19 de junho de 2010

Não vou falar de ti.
Não vou falar das estrelas, nem do sol
Não vou falar da noite, porque a noite é ruim.
Não vou falar de ti, nem vou falar de mim.

Não vou falar.
Vou olhar e ver-te.
Não vou tocar,
Mas vou ler-te.
E, cega, desesperar pela certeza.
De que, louca, neste mundo, não terei senão tristeza.

Não vou falar de ti,
Decerto, não o mereces.
Sei que pensas que é para ti
Que desvio as minhas preces,
Mas não.
Não é para ti,
Que tu, como a noite, és ruim.
Não é para ti, nem é por mim.

Não vou falar de ti,
Vou beber o meu café,
Talvez na esperança que venhas,
Calar-te, aqui ao pé.
Foi hoje que calei a noite
Logo quando começou.
Devagar, silenciei-a, por cedo nascer, do dia,
Com a luz que a abafou.
Então calei-a.
Passeei-me, fugidia.

Corri, esperando que as nuvens tapassem a minha face à noite.
Noite com nuvens não é noite, não tem estrelas, não tem lua.
Eu pensei ter calado a noite, mas a lua viu-se nua.
E as estrelas me abafaram, de vingança, num açoite.

E por fim, vi-me calada.
Com vontade de chorar.
Queria sentir-me amada,
Mas a noite deixou de me amar.
E por fim, digo boa noite
À noite que me calou.
E o carinho que lhe entrego,
Fingiu que não o tomou.
Mas receio o esperar pelo beijo
Decerto não o vou receber.
Não sei bem se o desejo,
A noite só mostra traquejo
Em fingir que quer proteger.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Deixar-me de palavras, de gestos, deixar-me de tudo.
Hoje vou.
Porque o mundo deixou de me ser mudo
E proezas que ele diz, a alguém, são coisas.
Não.
Nem coisas são.
São nada.
E o mundo não me diz nada, mas deixou de ser mudo...

Deixar-me de palavras, de gestos, de tudo,
E vou hoje, calar o mundo.
Porque as estrelas já não brilham como antes,
Nem a noite nos sorri, é mais pedante.
E o que tenho do mundo? Nada
Afinal, o mundo é mudo.

Deixar-me de palavras, de gestos, de tudo.
Porque as palavras deixaram de falar e os gestos de tocar.
Porque o mundo deixou de pensar e as estrelas de brilhar.

Vou deixar-me de palavras, de gestos, de tudo.
E vou deixar o mundo, assim, mudo.
Num copo de vinho, ouvir vozes,
Num copo de água, afogar tristezas,
Num copo vazio, encopar-me.
Ninguém me beberá, nem calará.
O mundo, mudo, será surdo.
Não o ouço, não me ouve.

Infecta-me o pensamento. O mundo. E mais é mudo.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Tudo isso é utopia.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Febre

Do vento apanhei o frio,
Da chuva apanhei a água.
Nos pés correu o vazio do gelo da minha mágoa.
E fiquei.

Lateja na minha cabeça
O som daquelas palavras
Mentiras que não queres que esqueça,
Sementes na terra que lavras...
Ai!

Porquê?
Porque o tempo nos marca com febre,
Nos faz delirar sem certezas
Sem querermos que o tempo nos marque,
Por chuva levamos levezas,
Pesadas que nos matam, porque
Na mentira não há riquezas...

E fico, fechada, de cama.
Quarentena no meu coração.
Porque um dia fiquei no frio
À espera de ti, em vão...

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Quero deixar de ser.
Quero deixar de ser, como a chuva, quando pára.
Como árvore, cortada.
Quero deixar de ser, como o perfume de uma flor molhada.
Quero deixar de ser.
Como o tempo, num instante.
Permanecer no corpo,
De alguém que é ambulante,
E não ser estanque.
Quero deixar de ser,
Não me importa o artifício.
Deixar de ser,
Como quando não há vício.
Quero deixar de ser,
Ser em vão, como já fui.
Se isso me deixar ser,
Sendo algo que evolui.
Quero deixar de querer,
Pois no querer está a esperança,
E esperando, algo me obriga
A manter a desesperança.
Quero deixar de ser
Como deixar de querer, quero.
E no fim fugir do mal,
Querendo o bem no que é austero.
Ai!
Quero deixar-me só,
Como muitos o fizeram.
Só, demais, sem pensamento,
Como muitos o quiseram.
Quero deixar de ser
E sendo, no meu juízo.
Quero deixar de querer
Querendo o que não me deste,
Porque deixei de querer,
No fundo, como quiseste.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Vou deixar de acreditar
Na chuva que cai,
No vento que sopra.
Vou deixar de acreditar no impossível,
Fugir ao que desejo, inatingível,
Pois força é pouca e dura, parte e vai...

Vou deixar de lutar,
Porque o que finda,
Finda sem saber onde se cai.
Vou deixar de acreditar que a chuva rega as plantas,
Que o sonho comanda a vida,
Pois no fim de tudo o que vem, sempre vai.

Vou deixar de acreditar.

domingo, 6 de junho de 2010

Sonho em silêncio

Vou calar-me.
E comigo vou calar a noite, as estrelas,
As nuvens que as tapam.
Vou fechar os meus olhos nos teus olhos
E nunca mais acordar...
Vou saber-me desejada no beijo que te vou dar.

Vou calar-me.
E ao sono que me afoga por ser noite,
Por ser lua.
Não quero ser tua, não quero ser minha.
Apenas me vagueio pela rua.

Vou calar-me.
E tirar às palavras o sentido que não têm.
Escrever somente em gestos,
Falar somente em actos...
Ouvir-te...De ouvidos tapados.
Ver-te, vendada.
Tocar-te...
Talvez onde exista o nada.

Mas vou calar-me,
Perdida no silêncio do sonho de um sussurrar.
E com ele vou acordar.
Despertar.
Recordar.
Sofrer.
E calar-me.
Podia desarmar o mundo só para ti,
Se fosses Rei.
Desacabar o brilho das estrelas,
Se fosses céu.
Como poetisa antiga,
Escrever o impossível,
Isto, se fosses meu,
Inatingível.

Mas vou deixar-me de ser sonhadora
Pois sabes que no sonho não há cura.
Apenas uma dor desoladora
De esperar o que não vem, leva à loucura.

E vagueio-me por coisas que disseste
E que por sinal, ouvi, sem ser calada.
Mas imploro-te o silêncio no que leste,
Ao silêncio rogarei a madrugada.

Mais não digo, são demais estas palavras
Para quem não ouvirá, decerto, a lua.
Gostava que fosses Rei, que fosses Céu,
Poesia num mundo que não é meu.