sábado, 1 de dezembro de 2012

Chora em quatro graus diferentes o teu choro, e em cada um deles, um segredo.
Prometes-te abrir a porta certa
Mas voltas a fechá-la sem me deixares passar.
Prometes-te ver da janela aberta
O que puseste a arejar.
E os quatro segredos do teu choro
Vão além do que odeio ou do que adoro,
São nem mais nem menos que o lacrimejar
Desses teus passos.
Chora em quatro graus diferentes
O teu choro, e em cada um deles, um segredo.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Contam-se os avisos do vento,
Vai deixar de soprar ao teu ouvido.
Nem o suspiro mais lento
Que alguma vez haverás lido.

Ficas-te em rumores que não controlas
Poesia sem saber que será louca,
E a muita loucura que isolas
Rogas à tua pele que seja pouca.

Contam-se os suspiros do vento
Em promessas que se deixam diluir,
Não mais os ouvirás no tempo
Saberás o que é demais no seu fugir.

domingo, 26 de agosto de 2012

Leva o vento contigo
E dá-lhe a volta
Com suspiros.

Quase me confundes
Nesse teu silêncio oculto
De mar.
Como se pedisses
Para não voltar
A iludir-me.
Uso o sorriso
Para não ficar,
Ficas tu
E o tempo
A sacudir-me.

Quase me prometes
Esse teu silêncio oculto
De amar.
Como se pedisses
P'ra desiludir-me.
Uso o sorriso
Para não ficar,
Ficas tu
E o tempo
A dividir-me.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Sento-me em frente ao medo
Faço-lhe sorrisos em vez de ilusões
Deixo-lhe ficar o vazio
Nas suas emoções.
Sento-me em frente ao medo,
Digo-lhe gostar de mim,
E fica o vazio sossego
Quase sem fim.

Sento-me em frente ao medo
Nesse jardim que tens com flores,
Troco olhares com o seu ego
E um arco-íris de cores.
E fica o medo a olhar-me
No mistério que só tem
A luz do Sol a cegar-me
De vontades sem desdém.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Vais sendo víbora do tempo
Que gasto em ti,
Talvez no pensamento,
Talvez no que não fica
Do que esqueci:
Noite.
Aos poucos encerro a madrugada e, com ela, 
O não-sonho.
Vais sendo víbora do tempo,
Fechada por uma janela
Em ti me erro:
Noite.
Adormeço em desejos
Que gasto em ti.
Permanecem até à madrugada,
Fechados por uma janela;
Não sabem eles como és bela:
Noite.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Desejo ter controlo sobre o mundo sem estar fraca,
E despedir o certo do seu chão.
Chamar o ocidente a adormecer-me, se estou louca,
E perder a razão.
Inventar sob a terra esta vontade que em mim brota
de criar sonho onde não há paixão.
E deixar isso tudo para quem não sabe a rota,
Ou o caminho na distância do amor à emoção.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Fico para dançar a dança que te pedi
E fica a dança dormente no corpo que encosto a ti,
Mais lento que lentamente
Me deixo a deixar ficar,
E fica o corpo que mente,
Sem se deixar de dançar.

domingo, 3 de junho de 2012

Como se quisesse fugir,
Fico,
À beira do oceano de chão.
E espero, quase sem razão
A liberdade de te ver.


segunda-feira, 28 de maio de 2012

Hoje, e só hoje, quero fazer da poesia prosa. E tudo porque não a soube sentir. E fecho os olhos para pedir que me ensines, quase como ensinaste esses meus olhos a sorrir.
Hoje, e só hoje, serei sereia em alto mar, cantar sob encantos do céu, pedir-lhe e às estrelas para amar. E no mar, deixar nadar palavras na ondulação, pedir à água que tas faça chegar ao coração.
Hoje e só hoje.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Espero que chegue
O que ficou.
Nada mais do que silêncios
Que o vento deixou.
Não, sem não querer,
Espero que vá,
Enevoado de caminhos,
Lento e só,
Perdido.
Isso que esperei,
Andou perdido.
Espero que chegue
Aonde não estou.
Deixando rasto
Por onde não passo.
Levando casto,
Todo esse espaço,
Onde nunca me levou.

domingo, 20 de maio de 2012

Se fosse o mar, não se veria a margem,
Ou as estrelas, não se sentiria a dor.
E tudo o que fica da paisagem
Ou se guarda sem rancor
Está para lá nesta viagem.
Chamemos-lhe "amor".

domingo, 13 de maio de 2012

Vou levar o vento fechado no meu peito
Porque a dor assim mo pede, que arrefeça
Sem saudade, perderei o casto leito
Sem que nada no fulgor de mim me aqueça.

Vou deixar de escrever cartas,
Que, mais do que disse, motes não existem.
As respostas estão nos ventos que se sentem
E as caixas que os sustêm já estão fartas.

No frio o arrepio não se prende,
Deixa-se apenas lento na verdade.
E o que se sente na realidade
É ilusão num corpo que se vende.

domingo, 6 de maio de 2012

Querem-se cegar as entrelinhas do conforto
Porque alguém disse que sim.
E o que não vem pela espera,
Que se deixou ficar morto,
Perde-se, no fim.


Querem-se cegar as amarras do desassossego
Porque o chão foge

E o corpo que não tem medo
Não é lento nem é ledo,
Perde-se no seu hoje.


Querem-se desarmar as gotas do que bebo
E as estrelas já não são manchas de céu.
Querias ser o mais do que o soberbo,
O que tens, já não tens cedo,
E o que perdes não é teu.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Pintei com sangue o gesto
Da multidão.
Esqueci a resposta.
Pintei com sangue,
E nada, nada se ouviu.
Nem sequer um não.
Será assim tanta a liberdade
Do amor para que fuja sem se crer?
Fico no escuro.
Ele me silencia.
Fico no medo que ele me cria.
Fico na esperança que descuro.
Ou no desassossego.
Fujo.
Do que respiro.
Fujo do que enche os meus pulmões de suspiro.
Quero deixar de imaginar
As trevas, o frio.
Quero deixar de imaginar.
Deixar-me levar na tinta do que não crio.
E esperar que sejas tu, no nada.
Chamou por mim, o horizonte.
Na voz que se sente sem ter nome,
Foi calor sem deserto neste monte
Sem ter quem, de seu corpo, em si se tome.

Já que em poucas imagens eu me tenho,
Ou pouco que do ser em mim se arrasta,
Não há espaço para lhe impor tamanho,
À vontade que em mim há de dizer basta.

O que foste não é mais do que fogo
Além do sacrifício, em mim se alastra.
Foste quem mais quis ser antes do logo,
Quem, de mim, levou crosta impura e casta.
Quando quiseres falar,
Eu ouço mais um segredo.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Emudece-me a pele.
Fá-lo onde as páginas não são mais
Que meros desenhos da realidade,
E onde o mundo é tudo o que se sonha
E não se pode tocar.

Emudece-me a vontade.
Que sem ela serei, eu, só mais um corpo
Em cativeiro.
E longe, de longe, da verdade,
Saberei, assim, amar.

Emudece-me a alma.
Que a calma já não faz o ser crescer.
Emudece-me a alma, e faz-me deixar de ser.
Em cativeiro.
Que o mundo que é tudo o que se sonha
Já não se pode sonhar.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Dançamos
Almas como sem gente.
Dançamos
Calmas no silêncio.
Perdemos
Almas sem semente.
Perdemos
Calmas no pretêncio.

Não sei os olhos do vento,
Já não sopra.
Ou quais as flores que cheiro
Sem perfume.
O que sei sabe a tempo
Que não toca
E a fogo que se sente
Sem ter lume.

Dançamos
Como quem não quer ser gente
Perdemos
As estribeiras do controlo.
E o que fica é tudo o que jamais
Nos mente.
Como febre fica apenas o desolo.
Dançamos.
Perdemos.
Ficamos.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Ouvi dizer do vento que ele é surdo
De saudade.
E as estrelas multiplicam fantasias.
Ouvi dizer do tempo que ele, no fim,
Traz a verdade.
E o mar, as maresias.

Ouvi dizer ao vento que o que sopra nele
É cedo.
De tempo, de toque, de minutos
E de medo.
Ouvi dizer que o vento não se mexe
Sem loucura,
E ao querer, ele, ser mais lento,
Acha nisso uma tortura.

Ouvi dizer do vento que ele é surdo
De saudade.
Por ser livre, diz-se lento
De sentir a liberdade.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Somos feitos de tempo diferente
Numa ampulheta entupida.
As horas passam no demais rente
Roubando através da vida.

Se o corpo se pára sem ser constante
A vontade de estar desolada:
Peço apenas hoje o pedaço vibrante
Da alma que foi laminada.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Lábios rosados sem cor aparente
Escrevem a doçura de alguns traços.
Deixando-me passar por quem não quer ser gente,
Fico-me caída de beijos,
Imponente.
Na estrada deixam-se os passos governar o caminho,
Abaixo do céu desigual.
E esta necessidade de fugir ao carinho,
Faz-lhe mal.
Lábios rosados que, da cor dormente,
Se deixam ficar.
Não servem mais para dizer-se gente,
Ou para amar.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Quero ser feita de areia.
A Primavera vem feita de estilhaços,
Como a poesia que não se completa.
A cidade vem aos poucos,
E a natureza deixa-se cair,
Aos passos.
Sou pequena no vento
E pesada na água da fonte que paro.
Quero ser feita de areia,
Alheia de tormento,
Alheia de que ele seja raro.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Parece-me que já não sentes
O vento a dormir.
Parece-me que não assobias
As palavras.
parece-me que adormeces
Sem te veres sorrir.
E que te imprimes amarras.

Parece-me que já não sonhas
Com castelos.
Parece-me que já resguardas
Os suspiros.
Parece-me que não te deixas
Sequer tê-los,
E que deambulas sem senti-los.

Parece-me que não sei
Continuar este poema.
Ensinei-me a sonhar,
E embalei-me nesse dilema.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Talvez seja do ar,
Talvez seja do frio ou do pouco calor.
Talvez seja do ar que não consigo respirar,
Ou do indefinido amor.

Talvez seja do que não é,
Do que perde a sua estrada,
Ou quando há vento no caminho.
O vento que sopra gelado
Vem de encontro ao meu carinho,
E o carinho abandonado,
Já não se faz, nem do nada.


Talvez seja do sol,
Que frio, se esconde no céu limpo.
Talvez seja do silêncio que decresce.
Talvez seja do tudo que não me minto,
Ou do que desce.

Talvez não seja.
Talvez não seja nada.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

É só para dizer que chorei a tua morte
Antes da ida.
E nesta cadeira onde agora me sento,
Não sei rimar.
Perdi sem quereres saber o que é no certo
A vida.
E deixei-me afundar.

É só para dizer que a outra coisa que te digo
Não pede certeza.
E a certeza do que disse não é pronta.
Já fui de criar crenças na crença
Desta fraqueza.
Muito mais que o que ela conta.

É só para dizer que mais não choro
Que o não saber rimar.
Pois vivo na fantasia de que o sei
Sem querer falar.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

"Hoje apetece-me um 'por acaso'
Ao acaso de que o tempo não se tenta.
Espera-se tentando assim que o tempo
Seja apenas o que a nossa mente inventa.
E sento-me no banco do momento
... À espera daquilo ao que chamo acaso.
É certo que não é, tal, mais que o tempo
Que nunca se pensou.
Ou que nunca foi esperado."
Já quase no nevoeiro
Se soltam gritos de fugidia brancura
A paz que de ela vem, como do frio,
Deixa-se escorrer pelos lábios
Como ar quente que se solta em disparia
De um mundo.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

É ver as horas passar
Sem contar o tempo.
O tempo leva-o longe, o vento,
Achava querer-se amar.
Amar é longe no vento
E perto afogado no mar.

É ver as horas cair
De tempo contado,
Deixá-las querer-se matar.
É ver as horas cair,
É ver o tempo cair,
É vê-lo ir para longe com o vento
E lavá-lo afogado no mar.
Saberá o tempo do vento
Beijar o tempo do mar?
Tudo se resume a tempo:
Ao tempo que queremos ter,
Ao tempo que queremos dar.
Achando que o pensamento
Sozinho te irá lá levar,
Não é uma questão de tempo,
Mas sim de saber amar.

Já sou velha de tortura,
O que dói, sei, não vou torturar
Se sei bem que bem do tempo
Não há vida num momento,
Nem cardo para a agarrar.
E tirar vida do tempo
É fardo de suportar.
Não se vive de momento.
Acorda. Aprende a amar.