segunda-feira, 30 de abril de 2012

Pintei com sangue o gesto
Da multidão.
Esqueci a resposta.
Pintei com sangue,
E nada, nada se ouviu.
Nem sequer um não.
Será assim tanta a liberdade
Do amor para que fuja sem se crer?
Fico no escuro.
Ele me silencia.
Fico no medo que ele me cria.
Fico na esperança que descuro.
Ou no desassossego.
Fujo.
Do que respiro.
Fujo do que enche os meus pulmões de suspiro.
Quero deixar de imaginar
As trevas, o frio.
Quero deixar de imaginar.
Deixar-me levar na tinta do que não crio.
E esperar que sejas tu, no nada.
Chamou por mim, o horizonte.
Na voz que se sente sem ter nome,
Foi calor sem deserto neste monte
Sem ter quem, de seu corpo, em si se tome.

Já que em poucas imagens eu me tenho,
Ou pouco que do ser em mim se arrasta,
Não há espaço para lhe impor tamanho,
À vontade que em mim há de dizer basta.

O que foste não é mais do que fogo
Além do sacrifício, em mim se alastra.
Foste quem mais quis ser antes do logo,
Quem, de mim, levou crosta impura e casta.
Quando quiseres falar,
Eu ouço mais um segredo.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Emudece-me a pele.
Fá-lo onde as páginas não são mais
Que meros desenhos da realidade,
E onde o mundo é tudo o que se sonha
E não se pode tocar.

Emudece-me a vontade.
Que sem ela serei, eu, só mais um corpo
Em cativeiro.
E longe, de longe, da verdade,
Saberei, assim, amar.

Emudece-me a alma.
Que a calma já não faz o ser crescer.
Emudece-me a alma, e faz-me deixar de ser.
Em cativeiro.
Que o mundo que é tudo o que se sonha
Já não se pode sonhar.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Dançamos
Almas como sem gente.
Dançamos
Calmas no silêncio.
Perdemos
Almas sem semente.
Perdemos
Calmas no pretêncio.

Não sei os olhos do vento,
Já não sopra.
Ou quais as flores que cheiro
Sem perfume.
O que sei sabe a tempo
Que não toca
E a fogo que se sente
Sem ter lume.

Dançamos
Como quem não quer ser gente
Perdemos
As estribeiras do controlo.
E o que fica é tudo o que jamais
Nos mente.
Como febre fica apenas o desolo.
Dançamos.
Perdemos.
Ficamos.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Ouvi dizer do vento que ele é surdo
De saudade.
E as estrelas multiplicam fantasias.
Ouvi dizer do tempo que ele, no fim,
Traz a verdade.
E o mar, as maresias.

Ouvi dizer ao vento que o que sopra nele
É cedo.
De tempo, de toque, de minutos
E de medo.
Ouvi dizer que o vento não se mexe
Sem loucura,
E ao querer, ele, ser mais lento,
Acha nisso uma tortura.

Ouvi dizer do vento que ele é surdo
De saudade.
Por ser livre, diz-se lento
De sentir a liberdade.