domingo, 27 de abril de 2014

Saudades nem sei do quê,
Não sei quem mente nem sei quem lê,
Importantemente nada importa
Ao inconsciente que se eleva,
Nem ele sabe quem o leva.

Saudades, porquê?
Do que antes pisei ficou a marca do sapato no meu pé
Inconscientemente, o que mente a saudade?
Não é ela decerto a verdade, não é ela decerto quem vê...
O que o meu coração sente.

Detesto dar poemas à saudade.
A saudade inventa-se,
E ao peito que é indiferente,
Dá-se saudade.
E a saudade alimenta-se,
Parasita do coração.
Deixa-me por antes os pés assentes no chão.
Braga, 23 de Abril de 2014

Para que o coração se apague como vela acesa em chuva,
Não tolero a força só de não ter como o inventar.
É o castigo mais carente, água estagnada mas turva,
De um mar que deixou a praia p'ra não ter que a inundar.
E foi para longe da chuva que se perde na corrente,
Porque chover sem destino é ter tudo e nada para amar.
Braga, 23 de Abril de 2014
 
Se calhar caír o céu nestas estribeiras,
Pairante no conforto de o não ver
Serei eterna efémera ardente onde semeia
A vontade que não tem de em mim crescer.

Configuram-se castigos onde o tempo em si tropeça,
Da alegria que na aparição presente
Se corroi, tal é o pranto que começa
No fim onde fala o peito e a voz mente.
...
Supremacia que é quente e me ligeira
O pensamento que bate sem se ler,
Já não sei escrever então dessa lareira
O frio que em mim se abate sem crescer.

E procria o amor-perfeito em flor vibrante,
Com carinhos que nele mal me fazem crer
Para deixar vestígios secos de uma amante
Que há escondida algures à espera de nascer.
Lamego, 20 de Abril de 2014

Quando vieres buscar o amanhã
Pergunta-me se o tenho comigo,
Reles, o futuro bandido
Onde te afundas.
Reza-se intrometido nas incertezas,
Incapaz de me consertar.

Quando vieres buscar o ontem
Que te devo,
Não estarei mais lá....
Fico-me antes por cá, onde te afundas,
E onde vens buscar o amanhã
Do qual te dizes amigo,
Deixa-te, ele fugiu antes comigo.

Quando vieres buscar o hoje,
Deixa-te pelo caminho,
É comigo que ele foge.
E o que queres tu do meu destino?
Não percas tempo em busca do amanhã,
Ele fugiu ontem comigo, chegou hoje de manhã.

sábado, 12 de abril de 2014

Não fui ao mar para te pedir que me contes os meus sonhos, largados na areia em estilhaços de vidro.
Fui para lavar os meus desejos ocultos de te ter, e sem querer cuspiste-lhes mais uma onda para os afogar. Fui sem volta na revolta de querer sair, e aos passos pequenos decidi que não viria de novo para te ver, se é que sei ver na cegueira de castigos incultos que me prometo. O que foi descansado de grãos de areia remotos chega ao céu já sem sal, e todo o seu mal inunda o mar aonde fui para lavar os despojos de quereres irretribuíveis.
Subi as dunas, sequei os pés, e tudo o que foi sentimento está agora rés-bés ao chão que piso. E piso até arrebatar a pedra da calçada que o constrói de fora e me pesa, porque pesa. Ficam as culturas sem sustento e os poemas sem momento e os olhares já se evitam. Não perguntei porquê, levantei-me do chão, e andei de volta ao mar, onde não fui para que me contes os meus sonhos.