segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Estou a fugir à poesia,
Porque te quero ouvir tocar
Nesse piano.
Se é da arte que sou cúmplice,
E me dizes que sou eu no desengano.

Vou fugir sem ter retorno,
Porque o vento em que me torno,
Vai e não volta.
Mexe as ondas que se envolvem,
E me guiam pelo farol que o mar revolta.

domingo, 28 de novembro de 2010

Hoje vou fugir
Como se a rima não me amparasse.
Vou andar a pé,
Ver-me passar,
Olhar como se um rio passeasse.
Vou passar a ponte e vou-me ouvir,
Fechando os olhos sinto a estrada oculta.
A doçura do vento faz-me rir,
E aquece-me a que do fumo resulta.
Hoje vou fugir
Sem ter caminho em paralelo...
Vou escorregar nas estrelas
Que ainda não se vêem,
E ver-me cair...
Não quero deixar rasto
Se me vêem.
Não quero falar de ti.
Não quero resguardar-me nas palavras
Que em tempos, só por si, valiam tudo.
Não vou falar de ti, não vou falar de nada.
E vou escrever como se o tempo fosse mudo.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O sonho fica longe e não me volta,
Agarra no cascalho que ladrilha,
Um dia usei o sonho por estar morta,
Achando que é no sonho o que fervilha.

Quis ser fogo no vento que arrefece
Levar calor ardente ao que definha,
Achar que a cor é negra numa linha,
Que segue e em todas as cores decresce.

Fui, vaga, ao horizonte do horizonte,
Para encontrar o fim do que se acaba,
Fui longe sem sair deste meu monte,
Que por loucura insípida desaba...

Quem sou para amarrar os meus sentidos?
Ou pra querer sentir intensamente?
Sou nada no que se diz e se mente...
Sou vã e madrugada delinquente,
Nas coisas das palavras sou quem mente,
Por dizer-me ser omnipotente,
Por querer mais que o escrito que foi lido.