quarta-feira, 28 de abril de 2010

Vou lá fora.
Vou lá fora molhar os pés na chuva.
E se não estiver a chover, esperarei,
Pois na esperança me afoguei um dia.
Aquela esperança que julguei ser o que queria,
Mas sei que não me afectarei.

Vou lá fora.
No som da chuva encontrarei o meu silêncio.
O que me pedes, eu não sei, mas sei que em mim não há pretensio.
Se tu me julgas são certezas infundadas
O que tu usas p'ra fundamentar mentiras que em ti tragas.

Vou lá fora.
Vou esperar que anoiteça.
Não liguei a televisão o dia todo,
Nem por isso é algo que me enriqueça.
Vou lá fora respirar o dia quente que sonhei

E esperar que chova chuva para sonhar que me afoguei.
De resto, não me aconselhem.
Já me afoguei em águas mais profundas,
Sem sequer molhar os pés.
E agora, só me resta respirar onde me afundas e sonhar que estou a leste do meu sul, que perco o meu norte ao olhar ao meu poente.
Vou lá fora.
Vou lá fora molhar os pés na chuva.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Olha por mim,
Quando ouves as ondas do mar dentro de um búzio...
Olha por mim,
Quando a sua espuma bate nos teus pés.
Se não olhares por mim, então não sei quem És.

Olha por mim,
Se no fundo as estrelas têm um encanto...
Olha por mim,
Se me cobres, lentamente com o teu manto, ó Rei.
Se não olhares por mim, então não sei se o sei.

Olha por mim,
Por mais longe que eu vá, sabes que tento.
Olha por mim,
Se isso em Ti te cria algum alento.
Se não olhares por mim, então não És o vento.

Olha por mim,
Se algum dia foste lua nova,
Olha por mim,
Se algum dia me deste alguma prova, de que olhas por mim.
Olha por mim,
E rezarei sem termos ou sei rima,
Pois saberei quem És,
Pois saberei que sei,
Pois serás Tu o vento,
Que me leva sem tormento.

sábado, 3 de abril de 2010

Lá fora o tempo ruge
Com a voz do desconhecido feita em vento.
Desinvade-me de medos e tristezas!
Leva-me p'ra longe num momento.

E agora, fico-me na campa das palavras.
Que porque não deixei, não foram mágoas,
Que porque não deixei, nem bom prazer.

Do medo fica apenas a loucura
De não me ter vencido desta cura
De simples ter fugido do meu ser.

Não há mais do que cores para ser pintadas
Não há mais do que palavras mal ditadas
Não há mais do que sonhos sem se viver.

E agora, fico-me sem podres na pureza,
Sem escuro do qual algo me proteja,
Sem frio para que surja o coração...
Não tenho a minha mão.
Perdi toda a razão.
E nada tenho. Nada noutra mão.