quinta-feira, 26 de junho de 2014

Queda de anjo em pedra mole
Não me faz dura
Tempestade de quereres nas minhas feras.
Enfurecem-se ao relento as primaveras
Aguardando do amor as pobres curas.
Se adoeço em não querer, quero-te tanto,
Oh possível do entretanto
Em mim, deveras.
Não me deixes falar tanto
Dessas feras,
Que o meu anjo não tem asa que as segure.
Sussurra-me tu de entre os teus segredos,
Ao ouvido, do amor, o que me cure.
A minha sombra, essa,
Deixei-a pelo caminho à espera,
Do nascer do dia, no qual impera
A desavessa vontade do amor, Que me atravessa
Além do avesso em mim tropeça
Com furor.
E ao amanhecer, reza a loucura
Que a verdade, por mais pura,
Age ao pudor.
Fico-te à espera, amante,
Depois deste, um outro levante,
Que amanheça, entretanto,
Com fervor.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

A seguir, ninguém ganha,
Ninguém sobe ao pedestal.
É tudo produto da mesma artimanha,
Filho bastardo do Reino Animal.
A seguir, derrubados amores,
Ninguém ganha o artifício,
Gastam-se vontades no ofício
Para não haver vencedores.

A seguir ao querer mais...
Do sonho, outro que tal,
Gasta-se o desassossego,
Toda a coragem, do medo,
E ninguém ganha, afinal.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Deixem rogar pragas a quem reza ao esquecimento,
Só dele se não liberta quem tem medo.
As orações que escrevem que se fiquem cá na Terra,
Que o céu não preza por quem dele se liberta.
O esquecimento vem cedo,
Não te mintas, o esquecimento vem cedo.

domingo, 8 de junho de 2014

Não quis escrever poesia, de todo.
Hoje deixo-a no meu grande modo
Do não sentir, perdida.
E a rima da euforia desmedida
É o teu lema, não o meu.
Nem sequer é meu o tema, a cor, ou o céu,
E porque não quis escrever, de todo, poesia.

Tanta gente inventa, tanta gente tenta,
E eu sinto-me tentada a não tentar,
Escorrega-me a tinta na tela atenta
Do nem sequer querer pensar.

Bendito cansaço que me segura
A impertinência de me mandar mais que eu.
A minha mão é indecência pura e crua,
Guarda a demência de tudo o que é meu.

Não quis escrever poesia, não quero.
O que deixo aqui são restos de palavras.
Nem o amor, a raiva ou tudo o que é severo
Me consegue prender nessas amarras.

São vãs, caladas, e fugazes
As silenciosas presas das palavras.